Situada entre os Vales do Rio Douro, nas margens da vila de Cambres, concelho de Lamego, encontra-se a Quinta da Pacheca, uma joia destacada na primeira demarcação pombalina da região. Ao mergulharmos na história desta Quinta, somos transportados para o século XVI, quando as suas vinhas eram parte integrante dos Mosteiros de Salzedas e São João de Tarouca, conforme testemunhado em documentos datados de 1551.
Foi precisamente à 268 anos, em 1756, que Marquês de Pombal instituiu a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, um marco crucial na história do vinho em Portugal, sobretudo o Vinho do Porto. Apesar de ser um monopólio do Estado, a Companhia era composta por acionistas privados, nomeadamente grandes proprietários durienses e negociadores do Porto, formando a conhecida aristocracia do Vinho do Porto. Entre estes acionistas, encontrava-se João Pacheco Pereira, juiz da Alfândega do Porto, desembargador do Paço, vereador da Câmara do Porto e um dos mais distintos proprietários do Porto e do Douro Vinhateiro, produzindo, na altura, mais de 300 pipas de vinho de embarque.
João Pacheco Pereira, naquela época, detinha diversas quintas e vinhas, sendo uma delas a Quinta de Tourais, chamada "Pachecos". Nesse período, a propriedade já abarcava uma vasta área, hoje reconhecida como Quinta da Pacheca. Um documento datado de abril de 1738 regista a propriedade sob o nome "Pacheca", sendo a primeira vez reconhecida com o nome feminino, revelando a força e a determinação de Dona Mariana Pacheco Pereira, irmã de João Pacheco Pereira e uma mulher singular que, na altura, cuidava sozinha da propriedade.
A história da Quinta da Pacheca entrelaçasse com a criação da primeira Região Demarcada para a produção de vinhos do mundo, estabelecida por Marquês de Pombal em 1756. A título de curiosidade, no interior da Quinta, preservado como um tesouro histórico, encontra-se um dos marcos pombalinos, erguido em granito e com a inscrição "feitoria". Esses marcos, que demarcavam as áreas destinadas à produção de vinhos de alta qualidade, são testemunhas silenciosas desta bela época e foram declarados bens de interesse nacional na década de 1940.
A virada do século XX trouxe uma nova fase à Quinta da Pacheca, quando D. José Freire de Serpa Pimentel adquiriu a propriedade em 1903. A sua visão e determinação centraram-se na modernização das vinhas e das estruturas, incluindo oito tanques de granito que, até hoje, são utilizados para a vinificação dos distintos vinhos tintos da Pacheca. Este compromisso resultou em produções anuais limitadas de vinhos especiais, nomeadamente nas categorias Vinhos Douro DOC e Vinhos do Porto.
Ao visitar a Quinta, somos guiados por séculos de tradição vinícola, onde cada detalhe conta uma história e cada vinha carrega consigo o legado de uma das propriedades mais prestigiadas do Douro. É uma jornada que nos transporta no tempo, conectando-nos às raízes da vinicultura portuguesa, enquanto apreciamos a excelência que a Quinta continua a oferecer aos amantes do vinho de todo o mundo.
Um brinde à Pacheca?