A Lagarada é uma tradição secular na história vinícola de Portugal, sendo um processo artesanal de vinificação no nosso país, especialmente na produção de vinhos tintos, traduzindo-se numa bela herança cultural.
A Lagarada consiste num método tradicional da produção de vinho, que corresponde na utilização de lagares de pedra para esmagar as uvas. Esses lagares são pisados por “pisadores” que caminham sobre as uvas descalços, exercendo pressão sobre as mesmas repetidamente para que os bagos se rompam e liberem o sumo das uvas. Este processo é repetido várias vezes e por vários dias, para que se possa extrair o máximo de cor, aroma e sabor das uvas. Com origem nas antigas tradições, é um método mundialmente conhecido pela sua autenticidade e resultados de alta qualidade.
Nesta técnica, as uvas que foram colhidas manualmente são cuidadosamente selecionadas e desengaçadas, isto é, são separadas dos engaços, conhecidos como os pedúnculos dos cachos e colocadas nos lagares. Os pisadores, também chamados de “lagareiros”, pisam a uva ao ritmo de uma música tradicional, e dão início ao que chamam de “pisar a vindima”.
Após o processo de pisar a uva, o mosto (sumo da uva) produzido é transportado para tanques ou barricas de fermentação. Durante a fermentação, os açúcares presentes no mosto são convertidos em álcool pelas leveduras. Em seguida, o vinho é envelhecido em barris para adquirir complexidade e desenvolver sabores distintos.
Em Portugal, este método de produzir vinhos tem raízes profundas remontando a tempos ancestrais. A Lagarada foi sendo aprimorada com o passar dos anos e transmitida de geração em geração, até aos dias de hoje, tornando-se uma herança da cultura do vinho português.
Por sua vez, a tradição da Lagarada possui características que a diferenciam de outros métodos de produção de vinho. Ao pisar a uva, os lagareiros conseguem extrair o sumo da uva de forma delicada, evitando a quebra das sementes e a liberação de taninos indesejados. Além desta vantagem, o uso dos lagares de pedra contribui para a criação de um ambiente ideal para a fermentação das uvas, uma vez que o granito retém o calor e permite, ao mesmo tempo, uma ventilação adequada para o bom desenvolvimento do vinho. O contacto das uvas com a pedra também é capaz de adicionar uma dimensão mineral singular aos vinhos.
A Lagarada é um método que requer um trabalho árduo e artesanal, envolvendo o esforço conjunto de várias pessoas. É considerado um momento de celebração, onde familiares, amigos e membros da comunidade se unem para pisar as uvas em conjunto e dar vida aos vinhos, promovendo a união e a comunhão com uma história única, do mesmo modo que incentiva o convívio, a partilha de conhecimentos e a transmissão de valores culturais.
Os vinhos produzidos a partir da Lagarada são conhecidos pela sua estrutura, concentração de sabores e sobretudo pelo seu ótimo potencial de envelhecimento, resultando numa experiência intrigante para os apreciadores dos vinhos. Embora a tecnologia tenha surgido para auxiliar e tornar mais prático o trabalho do homem, o nosso país continua a honrar a Lagarada como um legado enológico e, mesmo enquanto a modernidade avança, a Lagarada permanece como uma forma de relembrar a paixão e a dedicação dos antigos produtores de vinho portugueses.
Na região do Douro, por exemplo, onde esta tradição é muito conhecida, a nossa histórica Quinta da Pacheca, a primeira propriedade a engarrafar a identidade genuína do Douro, possibilita aos seus visitantes experiências de enoturismo como a Visita e Lagarada Tradicional, sendo um programa único e próprio para os amantes dos vinhos, com visitas às vinhas e adegas, acompanhados da Lagarada, degustações e um almoço tradicional. A Quinta, desta forma, preserva esta rica e autêntica maneira de produção ao manter vivo o seu vínculo com o terroir duriense, enquanto proporciona aos visitantes uma verdadeira viagem no mundo dos vinhos portugueses numa atividade educacional e sensorial.